Leia Paulo Freire

Durante os protestos e o circo midiático que levou ao afastamento da Presidenta Dilma, vi alguns cartazes e publicações falando de Paulo Freire.

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Protesto a favor da derrubada da Presidenta (fonte: http://www.revistaforum.com.br/2015/03/19/professor-cria-polemica-em-protesto-contra-paulo-freire-pedagogia-do-oprimido-e-coitadismo/)
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Criada quando Alexandre Frota foi recebido pelo Ministro da Educação em exercício (fonte: https://twitter.com/uneoficial/status/735555444966576130)

Já tinha ouvido falar do nome mas nunca li nada escrito por ele; sequer li qualquer coisa sobre ele. Tinha uma vaga idéia de que ele era um educador, principalmente após os memes relacionados ao Alexandre Frota ter sido recebido pelo Ministro da Educação em exercício.

Por motivos pessoais, eu parei de usar o carro para ir ao trabalho e passei a ir de ônibus + metrô – uma experiência que vai merecer um post próprio – e com isso ganhei ~90 minutos por dia só pra mim. Resolvi aproveitar esse tempo para ler. Comprei o Pedagogia do Oprimido, escrito por Freire em 1968 enquanto estava exilado no Chile.

No primeiro dia eu li o prefácio e o primeiro capítulo. Foi o suficiente para entrar num estado que chamei de “vergonha alheia de mim mesmo”.

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Foto de um homem com uma explosão no lugar da cabeça com o texto “Pedagogia do Oprimido”.

O termo é estranho mas é que – por mais que possa ser um clichê – eu definitivamente era uma pessoa antes e depois de ler o livro e ao lembrar do eu antigo eu sinto vergonha por ele.

O que eu aprendi com a leitura?

  • Eu intuitivamente entendia o relacionamento entre opressor e oprimido mas era difícil, sendo homem branco, hétero, de classe média, internalizar e aceitar o minha condição de opressor. Paulo Freire lhe deixa nu ao descrever em detalhe e de forma bem didática a relação.
  • Eu internalizei durante anos o mito do herói que vem libertar dos malvados os pobres coitados que não tinham forças suficientes para mudarem a sua situação. Em parte, isso influenciou o meu posicionamento político de esquerda. Paulo Freire deixa muito claro que isso é elitismo/egoísmo e que o verdadeiro movimento de libertação, a revolução dos oprimidos, precisa de liderenças de dentro. Nada de “guentaí que eu vou te desoprimir, pessoal”.
    • Existe uma discussão fantástica que pode ser feito da trilogia Matrix (sim, existem 3!) com base no que se aprende com o livro.
  • Por fim, o pensamento mais radical de todos: o oprimido, ao se entender como tal e conseguir se libertar através da revolução dos oprimidos, também liberta seu opressor, que não se considera como tal. E esse ato de libertação Paulo Freire considera como um ato de amor do oprimido para com o seu opressor.

E por que esses fatos me mudaram? Porque foi de longe o maior exercício de humildade pelo qual eu passei.

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Meme do Willy Wonka condescendente dizendo: “Quer dizer que você me entende como oprimido. Você deve me conhecer bem.”

E esse exercício fez com que:

  • eu adimitisse para mim mesmo que tenho vários preconceitos. Eu antes preferia acreditar que não, mas tenho eles sim. E se eu não quero ter, o primeiro (o menor) passo foi dado.
  • eu agora consiga entender (sem necessariamente concordar com) todos os posicionamentos dos grupos minoritários sem me sentir superior por isso. Entender não é conhecer, muito menos viver.

Definitivamente Paulo Freire mudou minha forma de ver a vida. E eu acho que vai mudar a sua também se você lê-lo.

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